Eu sempre gostei de ficar
sozinho. Pelo menos até ficar realmente sozinho, naqueles longos e dolorosos 7
(sete) dias (dias) em que os meus pais resolveram viajar e quando eu descobri
que NÃO, não é possível viver somente de Miojo e bife empanado. Sete dias em
que passamos, meu cachorro e eu nos olhando e provavelmente tendo o mesmo
pensamento, de forma contínua: “Por que me deixaram sozinho com esse animal?”. Tinha
certeza que depois daquela semana só um de nós sobreviveria, devido a minha
(falta de) habilidade para cuidar de qualquer coisa viva, inclusive eu mesmo.
Como era esperado, chorei pelo
menos um pouquinho por dia durante a semana. Percebi a dependência quase
química que eu tinha por ter alguém sempre presente, por “ter gente em casa” e
não houve internet, bate papo ou rede social que deu jeito naquilo. Sentia a
solidão no seu mais denso sentido. E é engraçado como a gente transforma palavras
pesadas como solidão em estado de
espírito tão rapidamente. Obviamente, os parâmetros pra definir o ~ peso ~ da
palavra solidão ficam bem alterados quando
se é o filho mais novo, que não sabe cozinhar e que fica sozinho com a
responsabilidade de cuidar de si mesmo e de um cachorro. Lembrando novamente que
todo esse drama ocorreu, acreditem, em 7 (sete) dias (dias).
O ponto é que, além dos
parâmetros do filho mais novo sem dotes culinários, existe uma série de outros
parâmetros sociais e psicológicos que nos dizem a todo instante que nós precisamos de companhia, que só é
possível viver feliz acompanhado e que não custa repassar aquela corrente por
e-mail, visto que o que está em jogo é o amor da sua vida voltando pra você em
sete dias. A parte boa é que com o tempo alguns desses parâmetros mudam e você
entende que a solidão só tem peso quando você não entende a beleza de se
conhecer, conviver consigo mesmo e tornar-se, além do seu maior amor, o melhor
amigo de si mesmo. A outra parte boa é que você consegue configurar a sua caixa
de e-mail marcando o que for spam, pra pelo menos não receber mais as correntes
chatas. E por isso hoje eu realmente gosto de ficar sozinho e tenho um prazer imensurável
em marcar remetentes chatos no e-mail como spam.
Passados os sete dias, meus pais
voltaram e foram recebidos com a habitual “festa” que só um bichinho de
estimação e um filho mais novo que passou a semana a base de Miojo e congelados
sabem fazer. Por sorte, o cachorro e eu sobrevivemos.
E assim, os amores da minha vida
voltaram depois de 7 (sete) dias (dias) sem eu nem precisar repassar a corrente
que recebi naquela semana.