sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Sete dias e o seu amor de volta!

Eu sempre gostei de ficar sozinho. Pelo menos até ficar realmente sozinho, naqueles longos e dolorosos 7 (sete) dias (dias) em que os meus pais resolveram viajar e quando eu descobri que NÃO, não é possível viver somente de Miojo e bife empanado. Sete dias em que passamos, meu cachorro e eu nos olhando e provavelmente tendo o mesmo pensamento, de forma contínua: “Por que me deixaram sozinho com esse animal?”. Tinha certeza que depois daquela semana só um de nós sobreviveria, devido a minha (falta de) habilidade para cuidar de qualquer coisa viva, inclusive eu mesmo.
Como era esperado, chorei pelo menos um pouquinho por dia durante a semana. Percebi a dependência quase química que eu tinha por ter alguém sempre presente, por “ter gente em casa” e não houve internet, bate papo ou rede social que deu jeito naquilo. Sentia a solidão no seu mais denso sentido. E é engraçado como a gente transforma palavras pesadas como solidão em estado de espírito tão rapidamente. Obviamente, os parâmetros pra definir o ~ peso ~ da palavra solidão ficam bem alterados quando se é o filho mais novo, que não sabe cozinhar e que fica sozinho com a responsabilidade de cuidar de si mesmo e de um cachorro. Lembrando novamente que todo esse drama ocorreu, acreditem, em 7 (sete) dias (dias).
O ponto é que, além dos parâmetros do filho mais novo sem dotes culinários, existe uma série de outros parâmetros sociais e psicológicos que nos dizem a todo instante que nós precisamos de companhia, que só é possível viver feliz acompanhado e que não custa repassar aquela corrente por e-mail, visto que o que está em jogo é o amor da sua vida voltando pra você em sete dias. A parte boa é que com o tempo alguns desses parâmetros mudam e você entende que a solidão só tem peso quando você não entende a beleza de se conhecer, conviver consigo mesmo e tornar-se, além do seu maior amor, o melhor amigo de si mesmo. A outra parte boa é que você consegue configurar a sua caixa de e-mail marcando o que for spam, pra pelo menos não receber mais as correntes chatas. E por isso hoje eu realmente gosto de ficar sozinho e tenho um prazer imensurável em marcar remetentes chatos no e-mail como spam.
Passados os sete dias, meus pais voltaram e foram recebidos com a habitual “festa” que só um bichinho de estimação e um filho mais novo que passou a semana a base de Miojo e congelados sabem fazer. Por sorte, o cachorro e eu sobrevivemos.

E assim, os amores da minha vida voltaram depois de 7 (sete) dias (dias) sem eu nem precisar repassar a corrente que recebi naquela semana.

domingo, 15 de setembro de 2013

Sobre Saudade



Quando escrevi o texto “Novas Coisas Velhas”, optei por este título depois de escrito, fazendo uma analogia aos conceitos que aprendemos logo cedo e que vão se reciclando, mudando e até sendo deixados para trás durante a vida. Quando pensei especificamente no nome em si, isso remeteu à diversas outras coisas que não estavam no mesmo contexto. No dia seguinte, dando uma clássica e diária zapeada pelo Facebook, casualmente encontrei uma página que falava sobre coisas antigas, onde pude rever algumas sobre a minha infância: desenhos animados, kit’s de talheres com gravuras de crianças e até um meme cantando a música do Johnsons Baby Shampoo, aquela que dizia: “GoXtoooooso pra chuchu, chuá, chuá, uuuh uuuh, vou lavar a cabeleira com o Johnsons Baby Shampoo” (eu adorava cantar essa música. E confesso que ainda canto, imitando a voz do ratinho e tudo).
Entre tantas outras coisas, uma chamou mais atenção: O perfume da minha avó paterna. Já não lembro o cheiro, mas a imagem permanece intacta. Um frasco cilíndrico, transparente, quadriculado com um líquido amarelo que reluzia em sua penteadeira de um mogno maciço com um enorme espelho emoldurado por todos os calendários possíveis, como manda a tradição da adoração das avós por calendários grátis. Era um lugar quase imaculado, como se fosse o seu santuário particular, com seus cremes, escovas, loções e remédios, muitos remédios. Mas apesar da divina-penteadeira, o meu lugar preferido da casa era outro, como manda a tradição da adoração aos doces de avó por parte de todos os netos da minha família.
Na cozinha, além de mais calendários, se via uma coleção de latas de alumínio de diversos tamanhos, contendo as coisas mais deliciosas. Bolachas com cobertura de glacê (conhecido também por merengue, batido a mão e a especialidade dela), rapaduras de leite, brigadeiros e várias outras guloseimas que faziam a alegria das crianças de todas as idades. Mas, além das guloseimas, aquelas latas tinham um certo mistério que levava a contemplação. Por longos 10 segundos (e isso era o máximo que eu aguentava), era necessário admirar aqueles objetos em respeito ao que significavam: um símbolo histórico quase tão marcante quanto a penteadeira do quarto.
A minha avó era um tipo de pessoa que não vemos mais por aí. Todos esses doces e guloseimas eram divididos igualmente em pequenas cestinhas a serem entregues aos filhos, aos netos, aos vizinhos e a muitas crianças de bairros carentes em épocas específicas como natal, dia das crianças, páscoa ou sempre que a sua debilitada saúde permitia fazer as iguarias e sair de casa para fazer as “entregas” pessoalmente. Mas não era “só” por isso que ela era uma pessoa diferente, era também pelo seu jeito, pelo seu carinho, pela sua empatia, paciência, por todos os exemplos de humanidade que tive dela e que talvez um dia eu conte mais aqui. Afinal faltou falar da cadeira de balanço, da máquina de fazer tricô, da televisãozinha azul com botão de girar e de tantas outras coisas que marcaram uma fase muito especial para mim. E por isso o título deste texto é “Sobre Saudade”, assim com “S” maiúsculo.
Ah, nessa página eu também encontrei a capa do filme Abracadabra (Hocus Pocus) onde a Sarah Jessica Parker interpreta uma das três irmãs bruxas, muito antes de eu ou ela nos encantarmos com Sex And The City ou Cosmopolitans em taças de coquetéis.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Novas coisas velhas

Hoje mais cedo, caminhando com um amigo pela rua, passei por uma mãe de mãos dadas com sua filha, de aproximadamente uns 10 anos. A menina estava linda, com uma tradicional roupa cor de rosa de bailarina, com direito a coque no cabelo e tudo. Enquanto caminhavam, a filha perguntava em tom de reclamação por que precisava estudar matemática e a mãe pacientemente explicava para a filha a importância da disciplina e como ela utilizaria tudo aquilo que estava aprendendo futuramente. Brinquei com o meu amigo, como se estivesse falando para a criança: “Menina, não cai nessa! Ela tá mentindo, você nunca vai usar nada disso na vida! Aproveita que você tá linda de bailarina e vai dançar que é bem mais divertido!”
Considerando os estereótipos do profissional da Administração que trabalha somente com finanças e números, seria ironia, eu - Administrador por formação - dizer que a menina não utilizaria nada daquilo que aprendeu em matemática durante a vida. Mas a questão não é essa. Talvez um dia a menina abandone o ballet, tome gosto pela matemática e vire uma grande profissional de algum ramo que utilize a fórmula de Bhaskara como principal ferramenta. Talvez não. Mas, eu ainda acredito que muito do que ela aprendeu e aprenderá se tornará inútil, em algum momento. E acredito também que essa é a graça das coisas.
De tempos em tempos gosto de reler os meus textos. E não é pelo meu óbvio complexo narcisista, mas sim porque gosto de rever todos os momentos em que escrevi cada um deles e descartar os pensamentos que já não servem mais. Gosto de ver como mudei e continuo mudando de opinião. Algumas vezes até tenho vontade de reescrever alguns, pra “atualizar” alguns conceitos, mas acho injusto com aquela fase, afinal, respeitar e aceitar cada fase de si mesmo não envolve somente o presente.
As coisas mudam a todo o tempo. Criar raízes em conceitos, teorias e opiniões é bobagem. Daqui a pouco aparece alguém que faz uma descoberta que derruba toda a teoria que a gente acreditava piamente. É necessário considerar hipóteses para construir qualquer pensamento e mesmo assim ele provavelmente não é imperecível, mas talvez por isso a gente estude tanta coisa que nunca utiliza de forma prática.
Mas uma coisa é certa: Das roupas de ballet infantis aos textos de blogueiros quase anônimos, nada escapa da obsolência!

Prova ~ disso tudo ~ é o que aconteceu comigo há poucos minutos quando fui pesquisar como se escrevia Bhaskara e me deparei com um “H” e um “K” que não conheci nas aulas de matemática, portanto acreditem, as coisas mudam! 

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Crises existenciais

No dia do aniversário de uma grande amiga ela escreveu em uma rede social algo do tipo: “Até uns dias eu tinha 18 anos, (...) 10 anos passaram e eu não vi”. Depois ela creditou esse pensamento à uma possível crise dos 30, que veio aos 28. Logicamente, com as mudanças que o mundo vem sofrendo e com a precocidade em que as coisas acontecem, seria pretensão demais esperar que uma crise dos 30 viesse somente aos 30. No meu caso, veio no início dos 25, mas como crises existenciais são apenas uma das especialidades dos tipicamente dramáticos piscianos (como eu), talvez ainda não tenha sido a tão famosa.
Você trabalha, estuda, namora, transa, bebe, reza (não necessariamente nessa ordem) e um belo dia acorda com o pensamento de que está tudo errado e que precisa reinventar tudo, que nada mais serve ou contenta no momento. Aí você critica veementemente tudo sobre si mesmo e acha que não fez nada e que precisa de uma reconstrução total: CRISE! Embora eu pense que “tudo” e “nada” são coisas grandes demais, que ninguém é “nada” e nem precisa mudar “tudo”, acredito que esses pensamentos são necessários, porque é aí que você muda de perspectiva, de postura, de objetivos, de atitude e faz a vida acontecer.
De todo modo, as crises trazem novos aprendizados e geralmente abrem um novo ciclo. Inicia-se uma nova fase com um pouco mais de conhecimento, e possivelmente mais dívidas no cartão de crédito e desilusões amorosas pra coleção também. Mas o fato é que evoluímos de alguma forma.
Entre fatos, redes sociais e crises existenciais o que me chamou atenção de fato, foi a quantidade de comentários sobre o que a amiga em questão escreveu dizendo pra esperar por outras crises em idades específicas, como aos 35, aos 45 e assim por diante. Aí eu pergunto: será mesmo que viver consiste apenas em esperar a próxima crise?
E como fui eu mesmo que perguntei, respondo: Sim!
Talvez eu precise viver mais crises pra escrever melhor sobre elas.

Ah, feliz aniversário Suayla! Muitas felicidades, muitos anos de vida e muitas crises pra você!