Outro
dia, passando por um aeroporto qualquer, enquanto aguardava a chamada do meu
voo, parei alguns instantes para observar uma senhora que passava. Com marcas
fortes de uma expressão que parecia continuamente carrancuda, a senhora caminhava
em direção ao seu portão de embarque mantendo a mesma expressão sisuda e desgostosa.
Continuei observando. Ela estava acompanhada de um rapaz, pouco mais jovem que
vez ou outra trocava algumas palavras com ela. A face permanecia igual,
inclusive durante os breves diálogos.
A
expressão indignada faz parte dos aeroportos. Diria inclusive que, se os aeroportos
tivessem uma cara, com certeza seria a dessa senhora. Mas, problemas de
logística e desorganização a parte, voltemos ao assunto principal.
Rugas
de expressão resultam de repetidas contrações dos músculos faciais que fazemos
quando externamos de alguma forma as nossas sensações e sentimentos. As linhas
paralelas entre as sobrancelhas resultantes de um cenho franzido com
frequência, devido à preocupação, os pés-de-galinha consequentes do riso largo
que chega a fechar um pouco os olhos, as linhas horizontais na testa provenientes
da expressão de espanto... De qualquer modo, caras e bocas fazem parte das
nossas reações. Como a épica entortada de boca de Meryl Streep em “O Diabo
Veste Prada”. Marcas visíveis das nossas
reações que nos tornam caricaturas ambulantes de nós mesmos.
A
cada dia surgem mais e mais produtos de beleza que tentam disfarçar esses
sinais. Houve um tempo em que essas linhas tinham produtos apenas para usuários
com mais de quarenta ou cinquenta anos. Hoje temos produtos que proporcionam
cuidados desde a adolescência (ou antes) pra evitar essas marcas. E sem sombra
de dúvidas é um cuidado válido, visto que vaidade não é nem nunca foi
desvirtude, tampouco sinônimo de futilidade. O grande problema é que nos
preocupamos com evitar ou “corrigir” apenas as marcas externas. E então temos uma
geração de vinte e poucos com cara de trinta e poucos, manias de quarenta e
poucos e marcas de oitenta e poucos. Seria esse o resultado de cosméticos
ineficientes ou reações inadequadas ao que nos acontece?
“Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela
do que eu?” – dizia a Rainha. E o maldito espelho nunca respondia: “Procure ajuda
psicológica e resolva isso, moça!”. A
Rainha Má, a Branca de Neve, o príncipe e quiçá os anões (travestidos de
Gretchen ou não – entenda em: http://www.tiagogiacomoni.blogspot.com.br/2013/11/algumas-perguntas-sobre-sexo.html)
seriam muito mais felizes, fosse para sempre ou não.
As
marcas mais profundas que temos não são visíveis. São observáveis apenas no
nosso comportamento e para estas não existem cosméticos, tratamentos a laser ou soluções mágicas que em um determinado
prazo fazem desaparecer. Algumas delas simplesmente nunca se apagam,
acompanhando o nosso reflexo no espelho pra sempre. Mas talvez (sempre ele) o “felizes
para sempre” comece com a gente mesmo, quando aceitamos as nossas marcas
internas e externas, enxergando a beleza no próprio reflexo, aceitando que
elas, afinal, contam a nossa história e a felicidade esteja nas coisas mais
simples, desde comprar um creme rejuvenescedor a aprender sobre si mesmo observando
as pessoas em um aeroporto qualquer.