quinta-feira, 27 de março de 2014

Uma questão de bom senso

Uma boa definição para o que chamam de bom senso hoje em dia é: Aquilo que VOCÊ acha correto dentro da SUA realidade e que vai de acordo ÚNICA e EXCLUSIVAMENTE com aquilo que VOCÊ concorda/aprecia/respeita e com aqueles que concordam/apreciam/respeitam você.

Vale o lembrete de que o mundo é um pouquinho maior do que as nossas limitadas realidades e experiências.

Fiquei besta ao ler a notícia da pesquisa sobre a influência do comportamento da vítima no estupro (disponível em http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/03/27/maioria-diz-que-mulher-com-roupa-curta-merece-ser-atacada-aponta-pesquisa.htm). É triste ver que só no primeiro trimestre de 2014 temos – além de outras notícias que citarei durante o texto – uma pesquisa desse tipo. Principalmente quando o resultado aponta que a maioria das pessoas acha que mulher que usa roupa curta MERECE ser atacada.

(Repito aqui o que já disse em outro texto: Se você, querido leitor, faz parte dessa parcela e ainda acha que parte da culpa é da vítima que “deu mole”, pode parar a leitura aqui e ir saborear seu capim em outro lugar.)

Não é nem mais revolta. É tristeza. Tristeza por saber que a mudança de pensamento demora tantas gerações que talvez nem os meus netos vão ver as coisas serem diferentes. Ou por ver que além dos 42,7% dos que concordam totalmente com a afirmação “MERECE SER ATACADA”, temos mais 22,4% que concordam parcialmente.

Fiquei ainda mais besta quando vi o relato de uma amiga que HOJE foi assediada por um taxista quando estava andando na rua, quando o mesmo a chamou para seu táxi, buzinou e não contente repetiu o ato quando parou na sinaleira. Nada grave aconteceu a ela. Nada grave acontecerá a ele. E não é uma questão de omissão da vítima e sim da nossa cultura machista que considera esse tipo de ~abordagem~ como normal.

Que direito alguém tem de achar que o corpo do outro é de domínio público? Que direito alguém tem de querer definir o que é apropriado ou não para vestir ou que parte do corpo pode ou não mostrar? Que direito alguém tem de julgar o comportamento do outro pela quantidade de parceiros sexuais que teve na vida? Que direito alguém tem de achar que o outro “tá pedindo” alguma coisa?

Homem que anda sem camisa tá pedindo alguma coisa?

Homem que usa roupa colada tá pedindo alguma coisa?

E a mãe estuprada com a filha no colo estava pedindo alguma coisa?

E a mulher de 60 anos que foi estuprada em frente a mãe de 100 anos estava pedindo alguma coisa?

Mulher não tem que se dar ao respeito, é o machismo nosso de cada dia e a nossa cabeça preconceituosa e limitada que precisa entender que RESPEITO é o mínimo que qualquer ser humano – independente do sexo, cor, orientação sexual, religião, e principalmente, de você conhecer ou gostar dele (a) – TEM DIREITO e merece. E isso – acreditem – é a única coisa que elas estão pedindo.

E a sua mãe, irmã ou namorada, estão pedindo alguma coisa?