Uma
boa definição para o que chamam de bom senso hoje em dia é: Aquilo que VOCÊ acha correto dentro da SUA
realidade e que vai de acordo ÚNICA e EXCLUSIVAMENTE com aquilo que VOCÊ
concorda/aprecia/respeita e com aqueles que concordam/apreciam/respeitam você.
Vale
o lembrete de que o mundo é um pouquinho maior do que as nossas limitadas
realidades e experiências.
Fiquei
besta ao ler a notícia da pesquisa sobre a influência do comportamento da
vítima no estupro (disponível em http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/03/27/maioria-diz-que-mulher-com-roupa-curta-merece-ser-atacada-aponta-pesquisa.htm). É triste ver que só no primeiro trimestre
de 2014 temos – além de outras notícias que citarei durante o texto – uma
pesquisa desse tipo. Principalmente quando o resultado aponta que a maioria das
pessoas acha que mulher que usa roupa curta MERECE ser atacada.
(Repito
aqui o que já disse em outro texto: Se você, querido leitor, faz parte dessa
parcela e ainda acha que parte da culpa é da vítima que “deu mole”, pode parar
a leitura aqui e ir saborear seu capim em outro lugar.)
Não
é nem mais revolta. É tristeza. Tristeza por saber que a mudança de pensamento
demora tantas gerações que talvez nem os meus netos vão ver as coisas serem
diferentes. Ou por ver que além dos 42,7% dos que concordam totalmente com a
afirmação “MERECE SER ATACADA”, temos mais 22,4% que concordam parcialmente.
Fiquei
ainda mais besta quando vi o relato de uma amiga que HOJE foi assediada por um
taxista quando estava andando na rua, quando o mesmo a chamou para seu táxi,
buzinou e não contente repetiu o ato quando parou na sinaleira. Nada grave
aconteceu a ela. Nada grave acontecerá a ele. E não é uma questão de omissão da
vítima e sim da nossa cultura machista que considera esse tipo de ~abordagem~
como normal.
Que
direito alguém tem de achar que o corpo do outro é de domínio público? Que direito
alguém tem de querer definir o que é apropriado ou não para vestir ou que parte
do corpo pode ou não mostrar? Que direito alguém tem de julgar o comportamento
do outro pela quantidade de parceiros sexuais que teve na vida? Que direito
alguém tem de achar que o outro “tá pedindo” alguma coisa?
Homem
que anda sem camisa tá pedindo alguma coisa?
Homem
que usa roupa colada tá pedindo alguma coisa?
E
a mãe estuprada com a filha no colo estava pedindo alguma coisa?
E
a mulher de 60 anos que foi estuprada em frente a mãe de 100 anos estava
pedindo alguma coisa?
Mulher
não tem que se dar ao respeito, é o
machismo nosso de cada dia e a nossa cabeça preconceituosa e limitada que precisa
entender que RESPEITO é o mínimo que qualquer ser humano – independente do
sexo, cor, orientação sexual, religião, e principalmente, de você conhecer ou
gostar dele (a) – TEM DIREITO e merece. E isso – acreditem – é a única coisa
que elas estão pedindo.
E
a sua mãe, irmã ou namorada, estão pedindo alguma coisa?